quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Juan Gelman



Juan Gelman é, talvez, o mais importante poeta argentino vivo. É também jornalista e tem seus poemas traduzidos em pelo menos dez idiomas. Atualmente vive no México com sua esposa,apesar de visitar a Argentina todos os anos.
Em 1997 recebeu o Prêmio Nacional de Poesia de seu país...
Bem... Agora que você já conhece um pouco da vida de Juan Gelman, vamos de poesia:

Chuva
Hoje chove muito, muito,
e parece que estão lavando o mundo.
meu vizinho do lado contempla a chuva
e pensa em escrever uma carta de amor/
uma carta à mulher que vive com ele
e cozinha para ele e lava a roupa para ele e faz amor com ele/
e parece sua sombra/
meu vizinho nunca diz palavras de amor à mulher/
entra em casa pela janela e não pela porta/
por uma porta se entra em muitos lugares/
no trabalho, no quartel, no cárcere,
em todos os edifícios do mundo/
mas não no mundo/
nem numa mulher/nem na alma/
quer dizer/nessa caixa ou nave ou chuva que chamamos assim/
como hoje/que chove muito/
e me custa escrever a palavra amor/
porque o amor é uma coisa e a palavra amor é outra coisa/
e somente a alma sabe onde os dois se encontram/
e quando/e como/
mas o que pode a alma explicar?/
por isso meu vizinho tem tormentas na boca/
palavras que naufragam/
palavras que não sabem que há sol porque nascem e morrem na mesma noite em que amou/
e deixam cartas no pensamento que ele nunca escreverá/
como o silêncio que há entre duas rosas/
ou como eu/que escrevo palavras para voltar
ao meu vizinho que contempla a chuva/
à chuva/
ao meu coração desterrado/

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Marina Tsvetaeva





À VIDA
Não colherás no meu rosto sem ruga
A cor, violenta correnteza.
És caçadora - eu não sou presa.
És a perseguição - eu sou a fuga.
Não colherás viva minha alma!
Acossado, em pleno tropel,
Arqueia o pescoço e rasga
A veia com os dentes - o corcel
Árabe

A poesia homenageada da semana, é a da russa Marina Tsvetaeva. Nascida em 1892, a poetisa teve uma vida curta e trágica. Opositora da  Revolução Bolchevique, abandonou a Rússia em 1922 para se unir o marido, que tinha sido  oficial do exército “branco” (forças russas que se opuseram aos bolcheviques) . Em 1941, se suicidou, com apenas49 anos. A fama de seu trabalho, entretanto, correu o mundo e agora aterrissa no blog do MINUTOS DE POESIA:

TOMARAM . . .
"Os tchecos se acercavam dos alemães e cuspiam."
(Cf. jornais de março de 1939)
Tomaram logo e com espaço:
Tomaram fontes e montanhas,
Tomaram o carvão e o aço,
Nosso cristal, nossas entranhas.
Tomaram trevos e campinas,
Tomaram o Norte e o Oeste,
Tomaram mel, tomaram minas,
Tomaram o Sul e o Leste.
Tomaram a Vary e a Tatry,
Tomaram o perto e o distante,
Tomaram mais que o horizonte:
A luta pela terra pátria.
Tomaram balas e espingardas,
Tomaram cal e gente viva.
Porém enquanto houver saliva
Todo o país está em armas.

Para ouvir esse e outros poemas, escute nosso programa 11:30 e 23:30 na Rádio Educadora FM 107.5.

Acompanhe também no site:
http://www.irdeb.ba.gov.br/educadora/catalogo?busca=minutos+de+poesia

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Florbela

Hoje tivemos um poema lindíssimo de Florbela Espanca:


VERSOS

Versos! Versos! Sei lá o que são versos…
Pedaços de sorriso, branca espuma,
Gargalhadas de luz. cantos dispersos,
Ou pétalas que caem uma a uma.

Versos!… Sei lá! Um verso é teu olhar,
Um verso é teu sorriso e os de Dante
Eram o seu amor a soluçar
Aos pés da sua estremecida amante!

Meus versos!… Sei eu lá também que são…
Sei lá! Sei lá!… Meu pobre coração
Partido em mil pedaços são talvez…

Versos! Versos! Sei lá o que são versos..
Meus soluços de dor que andam dispersos
Por este grande amor em que não crês!…


Para ouvir esse e outros poemas, escute nosso programa 11:30 e 23:30 na Rádio Educadora FM 107.5.

Acompanhe também no site:
http://www.irdeb.ba.gov.br/educadora/catalogo?busca=minutos+de+poesia