Esta semana, o programa homenageia o poeta pernambucano João Cabral de Melo Neto. Sua obra vastíssima, transita por diferentes estilos, indo do surrealista ao popular.
Foi membro da Academia Pernambucana de Letras e da Academia Brasileira de Letras e recebeu diversos prêmios literários. No ano de sua morte, em 1999, especulava-se que era um forte candidato ao Prêmio Nobel de Literatura.
Hoje, você lê o poema:
Tecendo o amanhã
1
Um galo sozinho não tece uma manhã:
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro; de um outro galo
que apanhe o grito de um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzem
os fios de sol de seus gritos de galo,
para que a manhã, desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.
2
E se encorpando em tela, entre todos,
se erguendo tenda, onde entrem todos,
se entretendendo para todos, no toldo
(a manhã) que plana livre de armação.
A manhã, toldo de um tecido tão aéreo
que, tecido, se eleva por si: luz balão.
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