quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

João Cabral de Melo Neto

 

Mais uma vez, o homenageado dessa semana é João Cabral de Melo Neto. Sua obra vastíssima transita por diferentes estilos, indo do surrealista ao popular. 

Foi membro da Academia Pernambucana de Letras e da Academia Brasileira de Letras e recebeu diversos prêmios literários. No ano de sua morte, em 1999, especulava-se que era um forte candidato ao Prêmio Nobel de Literatura. 

O poema de hoje é:

Num monumento à aspirina

Claramente: o mais prático dos sóis,
o sol de um comprimido de aspirina:
de emprego fácil, portátil e barato,
compacto de sol na lápide sucinta.
Principalmente porque, sol artificial,
que nada limita a funcionar de dia,
que a noite não expulsa, cada noite,
sol imune às leis de meteorologia,
a toda hora em que se necessita dele
levanta e vem (sempre num claro dia):
acende, para secar a aniagem da alma,
quará-la, em linhos de um meio-dia.

*

Convergem: a aparência e os efeitos
da lente do comprimido de aspirina:
o acabamento esmerado desse cristal,
polido a esmeril e repolido a lima,
prefigura o clima onde ele faz viver
e o cartesiano de tudo nesse clima.
De outro lado, porque lente interna,
de uso interno, por detrás da retina,
não serve exclusivamente para o olho
a lente, ou o comprimido de aspirina:
ela reenfoca, para o corpo inteiro,
o borroso de ao redor, e o reafina.

Para ouvir esse e outros poemas, escute nosso programa
às 11:30 e 23:30 na Rádio Educadora FM 107.5.

Acompanhe também no site:

http://www.irdeb.ba.gov.br/educadora/catalogo?busca=minutos+de+poesia 

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